sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Angolagate

Em violação do embargo internacional de armas ao MPLA e à UNITA o valor total do armamento comprado por Angola à Rússia, entre 1993 e 2000, ascende a uns previstos quatro mil milhões de dólares.
Mas o julgamento caso "Angolagate" que começou no princípio de Outubro em Paris, diz apenas respeito a 790 milhões de dólares de transacções de armas, onde cerca de metade destes dólares em jogo serviu para pagar comissões às várias partes e interessados no negócio.
Jean-Christophe Mitterrand, filho do ex-Presidente, Charles Pasqua, senador e ex-ministro do Interior, e Jacques Attali, economista, escritor, e ex-conselheiro de François Mitterrand, são algumas das figuras mais influentes, da direita à esquerda francesa, entre os acusados de tráfico de influências e enriquecimento ilícito, neste caso de venda de armas da Rússia a Angola.
Os beneficiários angolanos são responsáveis como José Eduardo dos Santos, Presidente angolano, o embaixador Elísio de Figueiredo ou o ex-chefe da Casa Civil da presidência José Leitão e a mulher e o filho deste, e altas patentes das Forças Armadas Angolanas, como os generais Salviano Sequeira e Carlos Alberto Hendrick Vaal Neto, hoje ligado a uma sociedade no negócio de diamantes, ou Fernando Araújo, general e também na altura conselheiro do Presidente.
Mais de 21 milhões de dólares recebidos por altos responsáveis do regime angolano no negócio ilícito da venda de armas da Rússia a Angola passaram por bancos portugueses. Resta saber quem foram os beneficiários portugueses.
A estas personalidades públicas juntam-se dois dos nomes mais conhecidos no mundo dos negócios de armamento - o franco-brasileiro Pierre Falcone
(conselheiro angolano na UNESCO) e o israelo-russo Arkadi Gaydamak (politico israelita) - ambos milionários e protegidos de Angola, e os únicos réus acusados de venda ilegal de armas. Os dois são acusados de terem criado uma vasta rede de intermediários, bancos e empresas, e de através dela terem pago comissões às personalidades francesas que estão no banco dos réus e a cerca de 30 dignitários angolanos.

Angola exerce então um jogo diplomático e de pressões, em várias escalas, sobre o Governo francês, desde 2001, por intermédio da petrolífera Total, e de outras empresas.
Muitos contratos que estão a ser preparados continuam dependentes do desfecho do julgamento. As licenças da petrolífera Total sobre vários blocos em Angola estão mais ou menos postas em causa, talvez ainda sujeitas a novos leilões. Neste caso, há interesses já presentes que podem estar ameaçados. A Total tinha previsto nos próximos anos multiplicar por dois ou por três os seus investimentos em Angola. Mas além desta, há cerca de 70 empresas francesas em Angola e algumas bem implantadas, sobretudo na banca e na construção. Muitas empresas do sector da Defesa em França gostariam de vender armas a Angola, e esses contratos estão dependentes do desfecho do julgamento.

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