De um lado, a indústria, o desejado motor de arranque da economia do país. Do outro, o sector agrícola, que não está disposto a repartir a sua terra, sobretudo numa Índia onde dois terços de uma população de 1,1 mil milhões depende da agricultura. No meio da disputa, está (ou estava) o Nano, apresentando pelo grupo indiano Tata Motors em Janeiro como o carro mais barato do mundo, com um preço de venda de cerca de 1566 euros. Após meses sob intensos protestos dos agricultores, que acusavam a empresa e o governo indiano de lhes ter confiscado as terras sem oferecer uma compensação adequada, a Tata Motors decidiu abandonar os seus planos de produzir o Nano em Sigur, no estado de Bengala Ocidental. A ganhar ficou o estado de Gujarat, o escolhido pela Tata para receber a nova fábrica do Nano, que vai criar 10 mil postos de trabalho e produzir, pelo menos, entre 250 mil ou 300 mil veículos por ano.
Talvez em nenhum outro país do mundo o sector primário tivesse força suficiente para fazer com que uma companhia da dimensão da Tata desistisse de um investimento de 350 milhões de dólares (cerca de 257 milhões de euros) e de uma fábrica que estava já concluída a 90 por cento. Mas a Índia é um caso singular. Embora as forças da globalização estejam a transformar a face do país, várias regiões continuam a resistir.
Entre os dois mundos da Índia, revezes como o sofrido pela Tata multiplicam-se, com acordos pendentes de aquisição de terras a pequenos agricultores por parte de grandes empresas e negócios, como "call centers" e condomínios habitacionais. No total, propostas de compra de 37 mil hectares - por uma soma de cerca de 40 mil milhões de euros - ficaram já suspensas graças a protestos lançados por agricultores.
Para não ir pelo mesmo caminho, a Tata começou logo a negociar com vários estados indianos, ávidos de investimento e postos de trabalho, acabando por decidir-se pela opção mais segura, Gujarat, um estado com uma base industrial estabelecida e onde há consenso político em torno dos benefícios do desenvolvimento económico. Com a questão praticamente resolvida, o presidente do grupo, Ratan Tata, continua convicto de que o Nano chegará no prazo previsto aos mercados, ou seja, antes do final do mês. A perder ficaram os 10 mil agricultores que, por 335 mil rupias (mais de cinco mil euros), venderam a sua terra. Muitos queixam-se que a retirada da Tata os vai deixar sem perspectivas de emprego. E nem a terra terá grande valia. Afinal, foi tão explorada para uso industrial que permanecerá incultivável nas próximas décadas.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
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